Ane Luíse Silva Mecenas Santos e Magno Francisco de Jesus Santos

 “QUE EXPURGUE DOS DOMÍNIOS DA INCERTEZA FACTOS HISTÓRICOS”: ISABEL GONDIM E O ENSINO DE HISTÓRIA DO BRASIL (1892-1909)


O emergir da Primeira República no Brasil foi marcada pela confluência de novas demandas historiográficas, tanto no âmbito da investigação histórica, quanto do ensino. A ebulição dessas novas ideias atinentes aos fazeres historiográficos também repercutiu no emergir de novos sujeitos, que oriundos de diferentes espaços institucionais do país, pensavam a escrita da história para públicos totalmente diversos (SANTOS, 2013).

Neste sentido, a produção de narrativas históricas ao longo dos primeiros decênios republicanos foi marcada por uma dimensão polimórfica e polissêmica, na qual foram atribuídas diferentes funções para o conhecimento histórico, como a legitimação do novo regime político a partir da elaboração de biografias de heróis republicanos, a invenção de um passado perpassado por experiências republicanas, a proliferação de narrativas históricas com perspectivas federalistas e uma acentuada preocupação com a questão do ensino de história. Como código disciplinar na cultura escolar, a História foi pensada por um vasto grupo de intelectuais, que construíram propostas sobre o papel da disciplina no processo de formação do cidadão republicano e também sobre as estratégias de produção de narrativas escolares que tornassem o passado da nação inteligível para crianças e jovens (SANTOS, 2017; SANTOS, 2018; SANTOS, 2019).

Nesse contexto marcado por questionamentos e renovação das práticas de ensino da História, uma professora primária do Rio Grande do Norte notabilizou-se como uma das mais profícuas escritoras de livros escolares do período da Primeira República. Era a professora Isabel Urbana Carneiro de Albuquerque Gondim. Nascida na vila de Papari, nos idos de 1833, a professora Isabel Gondim atuou na docência nas escolas primárias de Natal ao longo de grande parte da segunda metade do oitocentos, levando-se em consideração que ela foi concursada para a cadeira de ensino primário em 1866 e aposentou-se apenas em 1891 (MORAIS, 2003).

Ainda como docente de primeiras letras na provinciana cidade do Natal, no Império do Brasil, Isabel Gondim publicou o seu primeiro livro, “Reflexões às minhas alunas”, nos idos de 1873. Trata-se de uma obra que pensava a educação feminina em diálogo com importantes pensadores da educação do último quartel do oitocentos. Isabel Gondim justificou essa escrita em decorrência de suas demandas docentes, na qual “notando a falta de um livro era lingua portuguesa, propriamente destinado à primeira educação da mulher, resolvi aproveitar-me de alguns d’aquelles preciosos materiaes, e elaborar o pequeno livro” (GONDIM, 1879, p. 7). Posteriormente, em 1885, ela publicou “Elementos da educação escolar para uso nas escolas primárias de um e outro sexo”.

Percebe-se, que na primeira fase de escrita, Isabel Gondim tinha como eixo central de sua reflexão à prática de ensino e o papel do ensino primário na sociedade brasileira. Essa dimensão de escrita mudou consideravelmente, no período posterior a sua aposentadoria, constituindo a sua fase de maior produção de textos e de uma maior inserção na escrita de textos de teor histórico. Em tempos republicanos, a professora aposentada transmutaria em uma importante pensadora da História, por meio da produção de livros voltados para públicos mais amplos, utilizando-se linguagens pouco usuais na escrita na história. Com isso, ela escreveu livros como “Sedição de 1817 na capitania ora estado do Rio Grande do Norte”, escrito em 1892 e publicado em 1908. Em 1900 ela publicou a primeira edição de “Brasil, um poema histórico do país”. Em 1909 publicou “O sacrifício do amor: drama em cinco atos”. Além disso, deixou o manuscrito “Rio Grande do Norte: noções históricas” e “Resumo da História do Brasil”.

Diante dessa produção historiográfica, esse texto tem como escopo a escrita de livros escolares de História pela professora primária Isabel Urbana Carneiro de Albuquerque Gondim (1839-1933). Trata-se de uma intelectual que se notabilizou pelo exercício do magistério e produção bibliográfica, notadamente, peças de teatro, livros de poesias e textos de história. Desse modo, objetiva-se problematizar a construção da concepção de história gestada pela pensadora da história, bem como a sua mobilização da narrativa para a produção de leituras atinentes ao passado da nação de forma que se tornasse inteligível e sensível para os alunos.

Foram elencados como fontes centrais para a análise a produção historiográfica de Isabel Gondim, notadamente os livros “Sedição de 1817” e “O sacrifício do amor”. São dois livros que mobilizam uma reconfiguração da metodologia da história, na qual as memórias familiares são elencadas como recurso para a construção da “verdade histórica”. De igual modo, são dois textos que se utilizam de novas linguagens para a construção da trama histórica, transitando entre uma história pública tingida pela esfera privada e a história em uma trama teatral.

Os escritos da professora Isabel Gondim ao longo dos primeiros decênios republicanos denotam para uma atuação da docente como uma pensadora da História, ou seja, ela integrou um grupo de intelectuais que repensou a escrita da história pátria em seu processo de escrita e de ensino. Neste sentido, vasculhar a produção historiográfica da referida professora é um passo relevante no processo de compreensão da historiografia brasileira e dos fazeres historiográficos no contexto da virada republicana, pois elucida como uma mulher, atuante no magistério primário de uma província do antigo norte do país pensava a história na questão da escrita e da difusão das narrativas históricas para públicos mais amplos (SANTOS, 2020).

Certamente, não se trata de uma mulher silenciada, sucumbida pela névoa do tempo. Em diferentes temporalidades, Isabel Gondim foi lembrada. Em seu tempo, dialogou com importantes nomes da intelligentzia nacional, participou de algumas agremiações culturais e intelectuais, publicou livros e artigos em jornais. No momento do falecimento, a sua memória foi fomentada pelos governos estaduais, por meio de homenagens na nomeação de logradouros públicos e de instituições de ensino. Nos fazeres historiográficos do tempo presente, Isabel Gondim também continua como um nome consideravelmente estudado, principalmente, no âmbito da História da Educação, com ênfase para o seu pensamento educacional e da prática de ensino voltada para as meninas (MORAIS, 2003).

Além disso, Isabel Gondim tem sido consideravelmente evocada como a voz de mulher do final do século XIX que expressa de forma significativa a visibilidade de mulheres intelectuais no Brasil do final do Império, em pesquisas que vislumbram os diálogos com outras mulheres de seu tempo, como Francisca Izidora (REVORÊDO, 2002) e Anna Ribeiro (MORAIS, 2008).

Desta forma, mesmo não estando no grupo de pesquisadores que vasculhavam os acervos documentais oficiais do país e de sua não participação efetiva nos círculos historiográficos, Isabel Gondim pode ser vista como uma pensadora da história que propôs alguns caminhos para a amplificação do processo de difusão do conhecimento histórico, como a exposição das narrativas do passado em dramas a serem encenados. Os seus escritos denotam uma preocupação em ver a história da esfera pública a partir da proximidade e intimidade das memórias privadas, do seio familiar. O seu enredo é enfeixado a partir dos bastidores familiares que testemunharam as angustias dos protagonistas da história. Uma história pensada a partir da intimidade, de porta adentro.

Por essa perspectiva intima e voraz, a narrativa histórica pensada por Isabel Gondim era um caminho para evocar o sentimento patriótico e coadunava com as prerrogativas cívico-patrióticas pensadas para o ensino de História nas escolas primárias. A complexidade de um passado temporalmente distante partira de uma realidade próxima, no espaço e no sujeito, respectivamente com o cenário do Rio Grande do Norte e das memórias familiares da própria autora. Se no âmbito da pedagogia moderna o ensino deveria partir do simples para o complexo, do próximo para o distante e do concreto para o abstrato, Isabel Gondim passava uma dimensão complementar desta prerrogativa, partindo do emotivo para o racional, do familiar para o público.

Certamente, essa busca por uma reformulação da escrita da história pátria mobilizada pela autora expressa uma visível preocupação com a aprendizagem histórica. A escrita passava a ser revista com o propósito de buscar a valorização de “factos históricos que provam, à evidencia, o amor que esta pequena terra, em que vi a luz, sempre consagrou à independência da patria, fecundando a arvore da liberdade com o sangue generoso de seus martyres” (GONDIM, 1892, p. 2). Além disso, ela também expressa uma preocupação com a aprendizagem histórica, na qual, a escrita coadunava-se com a metodologia do ensino.

Além disso, os escritos de Isabel Gondim também possibilitam a compreensão de seu esforço de mobilização de diferentes estruturas narrativas para a configuração de sua trama histórica. O passado evocado pela emoção e confirmado pelas memórias de entes familiares insuspeitos ou até mesmo pela autora transmutada em testemunha ocular, revela uma perspectiva de escrita da história muito destoante da premissa na qual o historiador deveria afastar-se do seu objeto, temporal e emocionalmente. De acordo com Isabel Gondim,

“Procurarei restabelecer a verdade na parte d'esses factos, sobre a qual tem apparecido divergência de opiniões, sem que a duvida tivesse ainda sido elucidada, baseando-me, não só nas mencionadas tradições, como em testemunhos insuspeitos de contemporâneos da epocha, a quem tive occasião de ouvir em palestras familiares, (piando ainda na adolescência, d'entre estes alguns que collaboraram na sedição e arrostaram-lhe as consequências, como foi o capitão-mòr André d'Albuquerque Maranhão (de Estivas, nome de sua propriedade rural), meu padrinho, varão, circunspecto, particular amigo de minha familia, um dos poucos patriotas do Rio Grande do Norte que lograram regressar da Bahia, em cujo cárcere estivera prisioneiro por alguns annos” (GONDIM, 1892, p. 3).

Isabel Gondim trilhou um caminho oposto, ao apinhar-se nas veredas familiares para entender a história de sua pátria, enveredando de seus próprios testemunhos. Apesar de seguir caminho oposto da neutralidade, a pensadora da História galgava o mesmo fim de outros profissionais da história de seu tempo: chegar à verdade.

O ato historiográfico de chegar à verdade dos fatos por meio de uma escrita que expressava sensibilidade, poesia e intimidade, expressa um recurso operacional pouco operacionalizado por pensadores da história do período entre o final do século XIX e o emergir do XX. Esse foi o caso de sua escrita em cincos atos acerca da Guerra do Paraguai, no qual ela expressou os elementos que permearam a escrita da história na perspectiva do teatro:

“Aproveitando algumas scenas que entre nós deram-se, por occasião de empenhar-se o paiz na desastrosa guerra contra o Paraguay, quando a um vexatorio recrutamento succedêra o alistamento de Voluntários da Patria, esbocei o seguinte Drama, sem duvida imperfeito, cujo principal assumpto fôra esse alistamento, e especialmente apresentar ao publico exemplos das virtudes que mais convém moldar nas famílias, encarecer-lhes o valor, e por ellas attrahir os corações. Apenas auxiliada por escassa-leitura de obras secundarias n'este genero, e sem que tivesse ainda visto alguma representação dramatica, arrojei-me a uma tal empreza, cujas difficuldades eram-me desconhecidas” (GONDIM, 1909, p. 1).

Neste sentido, também é relevante pensar como as obras da professora foram recebidas no meio intelectual. “O sacrifício do amor”, que tem como escopo a história da Guerra do Paraguai, foi prefaciado pelo prestigiado intelectual Afonso Celso, integrante da diretoria do IHGB e autor de um dos maiores sucessos editoriais entre os livros escolares brasileiros: “Por que me ufano de meu país”. O prestigiado autor do livro cívico ressalta as virtudes patrióticas na escrita de Isabel Gondim, capazes de contribuir para a formação de um nobre sentimento de amor à pátria. A autora também foi consideravelmente elogiada por intelectuais pernambucanos e norte-riograndenses, na ocasião de seu falecimento, nos idos de 1933.

Contudo, existem importante ressalvas à recepção de seus livros. A principal crítica ocorreu também em relação ao livro “O sacrifício do amor”, com uma áspera resenha publicada pelo também renomado intelectual, Osório Duque Estrada, autor da letra do Hino Nacional Brasileiro. Em um texto mal-humorado, o intelectual fluminense elenca os erros de concordância do livro e o descreve como inútil. Contudo, o fato do livro ter sido alvo de uma resenha já expressa a inserção da autora no círculo intelectual de seu tempo.

Outra questão que reverbera essa inserção é a participação de Isabel Gondim como sócia correspondente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, desde o final do século XIX. Além disso, em várias ocasiões ela viajou para Recife, onde chegou a realizar conferências no Instituto Arqueológico sobre a Sedição de 1817, sendo bem recebida. É um forte indício de seu diálogo no campo intelectual. Contudo, em terras potiguares, a sua inserção foi muito mais lenta. Câmara Cascudo, proeminente historiador do estado, afirmava que ela não dialogava. Já o IHGRN, fundado em 1902, no mesmo contexto das publicações de Isabel Gondim, não a incluiu no seleto grupo de seus sócios. Ela iria se tornar sócia da principal instituição intelectual do Rio Grande do Norte somente nos idos de 1928, poucos anos antes do falecimento. São indícios de uma intelectual ambivalente na escrita e no fazer a história.

 

Referências Biográficas

Dra. Ane Luíse Silva Mecenas Santos, professora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História dos Sertões do Ceres/UFRN

Dr. Magno Francisco de Jesus Santos, professor do Departamento de História, do Programa de Pós-Graduação em Ensino de História e do Programa de Pós-Graduação em História da UFRN.

Referências

GONDIM, Isabel. O sacrifício do amor: drama em cinco atos. Rio de Janeiro: Typographia Commercial, 1909.

GONDIM, Isabel. Sedição de 1817 na província ora estado do Rio Grande do Norte. Natal: Imprensa, 1908.

MORAIS, Maria Arisnete Câmara de. Escritoras oitocentistas: Isabel Gondim e Anna Ribeiro. Educação e Linguagens. Ano 11, nº 18, 2008, p. 84-106.

MORAIS, Maria Arisnete Câmara de. Isabel Gondim: uma nobre figura de mulher. Natal: Terceirize, 2003.

REVORÊDO, Jacqueline da Silva. Isabel Gondim x Francisca Izidora: duas visões do amor no teatro no limiar no século XX. 2002, 193 f. Dissertação (Mestrado em Letras) Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2002 [Orientadora: Profª Drª Luzilá Gonçalves Ferreira].

SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Ecos da Modernidade: a arquitetura dos grupos escolares de Sergipe (1911-1926). São Cristóvão-SE: EDUFS, 2013.

SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Aos pés da águia alada: os grupos escolares e a infância sergipana nos tempos de Graccho Cardoso (1922-1926). Interfaces Científicas: Educação. Vol. 2, nº 3, 2019, p. 59-70.

SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Ensino de História, espaços e cultura política bandeirante: José Scarameli e a escrita de livros escolares para crianças. Revista História, Histórias, v. 5, n. 9, p. 104-126, 2017.

SANTOS, Magno Francisco de Jesus. “Scenas da História do Brasil”: Esmeralda Masson de Azevedo e a escrita de livros escolares de História para crianças. Revista História Hoje, v. 6, n. 12, p. 204-230, 2017.

SANTOS, Magno Francisco de Jesus. “Simples, atrahente e comovente”: o ensino de História nos programas dos grupos escolares sergipanos (1912-1924). História & Ensino, v. 24, n. 1, 2018, p. 165-197.

SANTOS, Magno Francisco de Jesus. “Um operoso e erudito estudioso da história de nossa pátria”: Raphael Galanti e o ensino de história do Brasil (1896-1917). Antiguos jesuíta en Iberoamérica. Buenos Aires, vol. 7, n° 2, 2019, p. 42-62.

SANTOS, Magno Francisco de Jesus. “Aos que tivessem avidez de saber das cousas pátrias”: Américo Braziliense, a escrita da história escolar e a invenção do espaço paulista (1873-1879). In: OLIVEIRA, João Paulo Gama; MANKE, Lisiane; SANTOS; Magno Francisco de Jesus (Orgs). Histórias do Ensino de História: projetos de nação, materiais didáticos e trajetórias docentes. Recife: EDUPE, 2020, p. 45-72.

SOARES, Lênin Campos. Isabel Gondim, a historiadora. Natal das antigas. Natal, 2019. Disponível em: https://www.nataldasantigas.com.br/blog/isabel-gondim-historiadora. Consultado em: 02/05/2020.


6 comentários:

  1. Parabéns aos professores Ane Santos e Magno Santos pelo excelente trabalho!

    A análise da obra de Isabel Gondim faz refletir sobre os limites de algumas generalizações como "mulher não produzia historiografia no século XIX" ou "historiadores escreviam de maneira impessoal e distante do sujeitos e fatos descritos". A escrita de Gondim tinha particularidades em relação ao modelo de escrita mais comum no período em que ela viveu, então, entendo que a concepção que outros intelectuais tinham de sua produção pode indicar elementos desse modelo. Nas resenhas das obras dela há indícios de que a sua opção por escrever História a partir da familiaridade com os personagens históricos e pela estrutura narrativa mais artística, através dos atos, pode ter causado estranheza e ter sido alvo de críticas por outros intelectuais daquele período? Alguma outra opção de escrita dela teve reações negativas?

    Mais uma vez parabenizo por trazerem a discussão a obra de uma historiadora e professora como Isabel Gondim.

    Att.,

    Clivya Nobre

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  2. Magno Francisco de Jesus Santos15 de setembro de 2022 às 07:54

    Professora Clívya Nobre, agradeço a leitura e a generosidade das palavras. Realmente, a trajetória da professora Isabel Gondim revela frestas que sinalizam para um cenário de ebulição do pensamento historiográfico no Brasil, tanto no âmbito metodológico da investigação histórica, como no processo de construção da narrativa. Neste sentido, as leituras generalizadas que ainda parecem de forma recorrente em nossos dias são desconstruídas. As críticas tecidas na resenha de Osório Duque Estrada não partem de um "estranhamento" metodológico, mas da qualidade da escrita. Acredito que isso sinaliza para o fato de que esse modelo de pensar a história não seria tão destoante assim. Eu penso que o modelo gestado por Isabel Gondim é revelador das inovações historiográficas emergidas pela inserção de novos sujeitos que passaram a escrever livros escolares de História, notadamente, professoras e professores que atuavam no ensino primário e buscavam conciliar o método histórico com a chamada pedagogia moderna. Além disso, no século XIX, o Conservatório Dramático do Império do Brasil, por exemplo efetivava a censura de peças que versavam sobre a história. Neste caso, era comum usar o teatro como uma forma de narrar sobre o passado. É algo para ser pensado. Mais uma vez obrigado pelo diálogo.
    Cordialmente,
    Magno Francisco de Jesus Santos

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  3. Ane Luíse Silva Mecenas Santos15 de setembro de 2022 às 08:05

    Clívya, grata pelo seu pertinente comentário sobre os fazeres historiográficos de Isabel Gondim. Vou apenas complementar o que Magno disse, com a questão das críticas produzidas por Osório Duque Estrada. Ele também era autor de livros didáticos de História e uma das queixas, presente na própria resenha, é que a Diretoria da Instrução Pública do Rio de Janeiro havia indicado o livro de Gondim para uso nas escolas primárias. Sabemos que o livro dele não foi aprovado e isso pode sinalizar para algo que vá além do debate sobre o método histórico e a construção da narrativa historiográfica, mas que seja revelador das disputas no mercado de livro didáticos no Brasil no emergir do século XX. É uma hipótese que pode ser adensada em outros trabalhos. Mais uma vez agradeço a sua interação.
    Atenciosamente,
    Ane Mecenas

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  4. Parabéns pelo texto Ane Luíse, muito bem construído e sensato. É possível que Isabel tenha sido fruto do machismo endêmico, que ainda hoje subjaz na sociedade, imagine a quase cem anos atrás! Sem uma análise profunda é difícil afirmar se houve erros de "concordância", no momento apenas resta observar que se criticam as "vírgulas" fora do lugar, mas se ignora o que há dentro delas, nosso tempo está cheio disso como antes.

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  5. Ane Luíse Silva Mecenas Santos15 de setembro de 2022 às 17:22

    Muito obrigada pela questão, Luciano Ferreira. Concordo com a dificuldade em comprovar essa possibilidade de machismo. Isso acaba exigindo o cotejo das fontes, com a comparação do que ele criticou em resenhas de livros produzidos por mulheres intelectuais com os textos escritos por homens. Neste campo, é possível perceber uma maior acidez em relação às resenhas de livros oriundos da pena feminina. Não foi o foco de nossa pesquisa no momento, mas penso que é algo pertinente para se pensar no conjunto das resenhas.
    Atenciosamente,
    Ane Mecenas

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  6. Magno Francisco de Jesus Santos15 de setembro de 2022 às 17:26

    Luciano Ferreira, agradeço a leitura atenta e o comentário. Só completando a informação de Ane Luíse, registro que o mesmo resenhista, Osório Duque Estrada, também fez fortes críticas bem acima do que costumava fazer em relação a outro livro didático oriundo da escrita feminina, Esmeralda Masson de Azevedo, que também era professora primária no Rio de Janeiro. Isso acaba por fortalecer essa hipótese do desconforto acerca da inserção de mulheres intelectuais pensando a escrita da História em livros didáticos.
    Cordialmente,
    Magno Francisco de Jesus Santos

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