A SEMANA DO
AUTISMO 2022 COMO PROCESSO DE LUTA POR VISIBILIDADE EM PROL DE POLÍTICAS
EDUCACIONAIS PARA PESSOAS AUTISTAS
Ana Carolina
Alves Tibúrcio e Alessandra Bertasi Nascimento
Caracterizado por uma condição de desenvolvimento
acentuadamente atípica comparada a outras pessoas da mesma faixa etária e nível
de experiências, o autismo apresenta prejuízo nas interações sociais,
modalidades de comunicação e no comportamento (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION
[APA], 2013). Denomina-se espectro por se expressar de modos distintos nas
pessoas, inclusive em diferentes graus, utilizados para nortear a intensidade
de apoio em prol do desenvolvimento e qualidade de vida. Por isso, o autismo
apresenta expressões únicas nas diferentes pessoas.
O contato visual diminuído, a dificuldade em
estabelecer novas relações sociais, a comunicação verbal ausente ou
comprometida, a alteração no comportamento com repetição de gestos são sinais
de autismo os quais podem ser identificados precocemente, a partir dos seis
meses de idade, quando se percebe ausência de atenção compartilhada nos
momentos de interação social com familiares, ausência de sorriso social e
contato pelo olhar, não acompanhamento visual de objetos e pessoas, falta de
resposta a sons emitidos, emissão de linguagem não verbal como a vocalização.
Identificar tais sintomas favorece o diagnóstico, o qual seria ideal por volta
de um ano de idade, a fim de dar início a intervenções multiprofissionais,
conforme o caso
A educação é uma garantia de direito assegurada a
todos por meio da Constituição Federal por meio do Art. 205, nos seguintes
termos: “[...] direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho” e “atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino”, III, Art. 208 (BRASIL, 1988).
Esse direito foi reiterado em legislações posteriores,
visando a inclusão social e educacional das pessoas com deficiência, inclusive
as com Transtorno de Especto Autista. Entre elas, destaca-se a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB) (BRASIL, 1996), a Política Nacional de
Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (BRASIL,
2012), conhecida como Lei Berenice Piana,
o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL, 2014), a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência ou Estatuto da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2015).
A LDB (BRASIL, 1996), reiterou e aperfeiçoou a
modalidade de ensino denominada Educação Especial, para atender alunos(as) com
deficiência, altas habilidades/superdotação e transtornos globais do
desenvolvimento, assegurando no Art. 59, entre outras especificidades,
currículos, métodos, técnicas,
organização e terminalidade específicas, professores especializados e
capacitados.
A Lei Berenice Piana (BRASIL, 2012), estabeleceu
diretrizes para a consecução da Política
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista
e para todos os efeitos legais, firmou a pessoa com transtorno do espectro
autista é como pessoa com deficiência, auxiliou no processo de ensino e
aprendizagem pelo incentivo à formação e a capacitação de profissionais para a
realização do atendimento especializado, de formação acessível e com ensino
profissionalizante, bem como o direito à um acompanhamento especial em sala de
aula, quando necessário. Esta legislação recebeu este nome devido a mãe de
pessoa autista e ativista, que por muitos anos se engajou em movimentos de luta
na elaboração de leis em defesa dos autistas.
O PNE (BRASIL, 2014), com o intuito principal de
melhorar a qualidade da educação no Brasil, estabeleceu na meta 4, para as
pessoas atendidas pela Educação Especial, a universalização do acesso à
educação básica e ao atendimento educacional especializado, a ser realizado
preferencialmente na rede regular de ensino e com garantia de um sistema
educacional inclusivo que oferte salas de recursos multifuncionais, classes,
escolas ou serviços especializados, público ou conveniado.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2015),
com força de emenda constitucional, priorizou a avaliação biopsicossocial da
pessoa com deficiência, por equipe multiprofissional e interdisciplinar, e
reforçou a acessibilidade, o desenho universal, o uso de tecnologia assistiva e
a eliminação de barreiras atitudinais, tecnológicas, urbanística,
arquitetônica, nos transportes e nas comunicações.
Apesar de todo o arcabouço legislativo que institui
políticas públicas em defesa de direitos, em diferentes áreas, para a pessoa
com deficiência, em especial a autista, ainda é necessário dar visibilidade à
causa, haja vista que a própria reiteração de garantia de direitos expressa a
constante negação dos mesmos. Foi a partir deste pensamento e da necessidade
local que foi desenvolvida a Semana do Autismo 2022 (NASCIMENTO, 2022),
ocorrida na cidade de Nova Andradina - MS.
A Semana do Autismo foi desenvolvida a partir da
percepção de problemáticas vivenciadas pelas famílias com filhos diagnosticados
com o Transtorno do Espectro Autista, as quais passaram a enfrentar obstáculos
tanto para o desenvolvimento da pessoa autista, quanto à inclusão em diferentes
âmbitos e o acolhimento dos familiares.
Os obstáculos enfrentados por familiares de pessoas
autistas no município de Nova Andradina - MS foram percebidos durante o
desenvolvimento de um projeto de extensão prévio, intitulado Pessoa Autista e
familiares: eu apoio (NASCIMENTO, 2020), efetivado por meio das rodas de
conversa virtuais, durante o período de isolamento social em decorrência da
pandemia da COVID-19. Participaram do projeto discentes do Curso de
Licenciatura em História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e
Matemática da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), pais e
familiares de pessoas autistas. Entre os obstáculos relatados estavam as
dificuldades no acesso a escolas e práticas inclusivas, diagnóstico precoce do
quadro, atendimento multiprofissional e interdisciplinar, acesso a espaços de
lazer adaptados, discriminação, preconceito e comércio despreparado para
atender à clientela, respeitando seus direitos.
Entretanto, ações precedentes remetem ao ano de 2018 com uma
estagiária, Gisele da Silva Akutsu, hoje funcionária municipal na área da
saúde. Ao ser direcionada a trabalhar com um aluno autista na Escola Municipal
Arco Íris, começou a pesquisar e ler sobre o tema. Descobriu que o dia 2 de
abril era um dia específico, decretado pela Organização das Nações Unidas
(ONU), em 2007, como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Apoiada por
Rafaele Aparecida Medeiros Vieira, mãe do aluno com o qual estagiava,
confeccionaram panfletos ainda em preto e branco e realizaram uma pequena ação
no sinaleiro da Praça do Museu, com apoio de algumas pessoas autistas e alunos
da APAE. Em 2019, sem poder falar em decorrência a um acidente do qual se
recuperava, junto do esposo, conseguiu patrocínio na Câmara Municipal de Vereadores(as)
para confecção de panfletos. Novamente com o apoio de Rafaele, patrocinaram
lacinhos azuis e realizaram a segunda panfletagem. Em 2020 tornou a conseguir
ajuda de alguns vereadores, mas a pandemia impediu a ação, retomada em 2021 com
o projeto Pessoas Autistas e Familiares: eu apoio.
Neste sentido, após o acesso a esquema de vacinação e
reabertura para retorno aos espaços escolares, convívio social e aglomerações,
foi proposto o projeto de extensão Semana sobre Autismo (NASCIMENTO, 2022) com o
objetivo de dar visibilidade local sobre a pessoa diagnosticada com TEA, seus
direitos, conquistas e potencialidades; favorecer a inclusão familiar e social,
levar informações à comunidade local; ofertar espaço de acolhimento, escuta e
orientações aos familiares e profissionais interessados na causa da pessoa com
TEA, sobre os direitos e possibilidade de conquistas.
A organização das atividades da Semana sobre Autismo
foi coordenada pela proponente do projeto em parceria com uma mãe de pessoa
autista e participante de prévio projeto de extensão, anteriormente mencionado.
Por ser também empresária local, mobilizou a Associação Empresarial de Nova
Andradina (ACINA), a qual convocou a participação de segmentos da sociedade
local engajados na causa da pessoa com deficiência, tais como: o Centro de
Referência em Reabilitação (CRR) e Associação dos Pais e Amigos dos
Excepcionais (APAE), 8º Batalhão da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros do
município.
Tais segmentos organizaram atividades em seus locais
de trabalho, participaram das atividades abertas ao público geral e mobilizaram
divulgação da Semana sobre Autismo que adotou o material gratuito e de uso
irrestrito elaborado para a Campanha Nacional 2022 e Dia Mundial de
Conscientização do Autismo, criada
pelo designer Alexandre Beraldo, com a colaboração do Instituto Maurício de
Sousa (CANAL AUTISMO, 2022a). O lema de 2022 foi “Lugar de autista é em todo
lugar”, frase da jornalista Fátima Kwant, mãe de autista adulto, além de
ativista internacional (CANAL AUTISMO, 2022b) .
A UFMS enviou ofício a diferentes Secretarias
Municipais e Coordenadoria Regional da Secretaria de Estado da Educação em Nova
Andradina, convidando a vestirem azul e estenderem o convite às escolas e
unidades básicas de saúde, bem como solicitando as autorizações necessárias à
efetivação de atividades.
A Câmara
Municipal de Vereadores(as) de Nova Andradina também foi acionada, por meio de
três vereadoras, as quais propuseram legislação local, acionaram órgãos
públicos visando a iluminação azul do Obelisco dos Andrades, localizado no
cruzamento das duas principais avenidas da cidade, solicitaram informações às
Secretarias Municipais de Saúde e Educação, além de participarem ativamente das
atividades abertas ao público geral.
Dentre as atividades desenvolvidas na Semana,
menciona-se: panfletagem; distribuição de laços com fita quebra-cabeça (símbolo
do autismo); preparação de cards de divulgação em redes sociais; adesivagem de
veículos com a logomarca da Campanha Nacional; adesivagem de carros de
familiares de pessoas autistas com orientação a motoristas e socorristas;
veiculação de mensagem pela Rádio Massa FM; piquenique comunitário TEAcolhe
para familiares de autistas e profissionais com eles atuantes; rodas de
conversa presenciais com alunos(as) das escolas públicas Luiz Soares Andrade,
Marechal Rondon, Irman Ribeiro de Almeida e Silva; roda de conversa presencial
com professores de escola pública e UFMS; roda de conversa on-line com a
participação de um professor mestre, autista adulto e ativista da causa, aberta
a acadêmicos, pais, familiares de autistas e profissionais atuantes junto às
pessoas autistas em que abordou o autismo em pessoas adultas; roda de conversa
on-line com professores de apoio e especialistas atuantes nas salas de recurso
da rede estadual de educação sobre estratégias e orientações de intervenções e
organização do processo educacional para pessoas autistas; roda de conversa
on-line com familiares e professores(as) de pessoas autistas da Escola Especial
Denise Accorsi Tomio Colaço, em Pimenta Bueno - RO, a partir de contato
realizado pela escola ao se deparar com a divulgação das ações no Facebook.
Embora as rodas de conversa tenham destacado as
especificidades da pessoa autista, a importância da cultura de conhecimento, informação,
não violência e não discriminação e a necessidade de visibilidade da pessoa
autista, merece destaque a roda de conversa que abordou o autismo na vida
adulta. Essa visou a inclusão nas
universidades, a importância de políticas locais de inclusão que favoreçam o
desenvolvimento de potencialidades das essas autistas para ultrapassarem a
conclusão do ensino médio, receberem os apoios necessários que se modificam no
transcorrer das diferentes fases de desenvolvimento do ser humano, e possam
obter sucesso nos processos de ensino e aprendizagem formais e informais,
favorecendo a qualidade das práticas, convívio e desempenho em diferentes
ambientes, tais como: o social, de lazer, esportes, comércio e profissional.
A panfletagem e adesivagem de carros, realizada no
centro da cidade, permitiu que diferentes pessoas adquirissem conhecimento
sobre o autismo, a causa ganhasse visibilidade de todos(as) aqueles(as) que estavam frequentando o espaço,
sejam moradores(as) locais ou pessoas de cidades circunvizinhas, já que o
município tem essa característica de atender demandas de municípios menores da
região em que se localiza. A ação contou com a participação de pessoas
autistas, familiares e estudantes do curso de História/UFMS e Matemática/UEMS,
profissionais atuantes na área, representantes do poder legislativo e
divulgação em som automotivo da Rádio Massa FM. A ação se constituiu em um
espaço educacional informal para a reflexão de que a pessoa autista pode
ocupar todos os espaços sociais, evidenciou a necessidade do comércio local pensar
estratégias de acolhimento da clientela, chamou a atenção do poder
público em investir em espaços de informação e implementação de políticas
públicas que ampliem a oportunidade de acesso e participação da pessoa
autista em locais que ainda enfrentam
obstáculos de diferentes naturezas e, portanto, ainda não estão acessíveis a
ela, inclusive e por consequência, a seus familiares, principalmente na
primeira e segunda infância, períodos prioritários de estimulação e
aprendizagens.
Constatou-se que a movimentação pela organização e
realização da Semana sobre Autismo passou a agregar outras pessoas
interessadas, inclusive mobilizando e articulando munícipes, parentes diretos
e/ou indiretos de pessoas autistas em pontos estratégicos para desenvolvimento
de atividades: mãe de autista, blogueira, que acionou rede de influencers locais e marcou entrevista
de divulgação em jornal online local; avó de autista, artesã, responsável por
ações de cultura no município, que organizou no Centro de Convenções Municipal
“Sílvio Ubaldino de Sousa”, um Espaço Sensorial, aberto para visitações
públicas; autista adulto recém-diagnosticado atuante na comunicação local;
vereadores com filho autista ou em processo de diagnóstico; aumento do número
de familiares e profissionais participantes em grupo de WhatsApp do município,
formado para articulação e informação dos(as) interessados(as).
As atividades também favoreceram a aproximação de
munícipes em busca de orientações para diagnóstico, encaminhamentos, dúvidas
sobre caracterização e formas de melhor lidar com comportamentos diários de
pessoas autistas com diagnóstico e/ou hipótese diagnóstica.
O piquenique comunitário TEAcolhe, foi realizado em
local particular de eventos com ampla área verde, cedido para esse fim, com
intermédio da ACINA. Os relatos dos familiares e profissionais participantes
revelaram a necessidade de áreas de lazer seguras à oportunidade de livre
exploração e expressão dos(as) filhos(as), sem variados estímulos sonoros,
principalmente sem altitude de som que estimulam a hipersensibilidade da pessoa
autista, além da importância de ofertar oportunidade para estreitamento de
laços sociais dos familiares, oportunidade de lazer e constatação da aceitação
dos(as) filhos(as) sem discriminação por seus comportamentos estereotipados e
repetitivos.
A Semana sobre Autismo também favoreceu a aprovação de
novas políticas públicas locais por intermédio da atuação da Câmara Municipal
de Vereadores(as). Conseguiu a aprovação de duas Leis: a de nº 1674, de 18 de
abril de 2022 que institui a Semana Municipal de Conscientização Sobre o
Autismo e dá outras providências (NOVA ANDRADINA, 2022a) e a de nº 1675, de 18
de abril de 2022 que assegura às pessoas com Transtorno do Espectro Autista
(TEA) e a 1 (um) acompanhante o direito à meia-entrada em eventos culturais e
esportivos realizados no Município de Nova Andradina-MS (NOVA ANDRADINA,
2022b).
Considerado pelas pessoas envolvidas e munícipes, a
maior divulgação local sobre a temática, entende-se que o projeto atendeu aos
objetivos a que foi proposto, mas não deve parar com a sua finalização. Como
indicado no texto, vários são os caminhos de intervenção que ainda podem ser
desenvolvidos com a comunidade com vista à efetivação da garantia de direitos,
especialmente no que tange a inclusão escolar em instituições de ensino da
educação básica à superior a fim de garantir a inclusão social. Afinal, as
políticas públicas em educação, saúde e assistência social, nem sempre estão
articuladas de modo a atender as necessidades que as pessoas autistas e seus
familiares apresentam, sem contar as barreiras existentes no comércio,
transporte, comunicação e tecnologia.
Referências
biográficas
Dra. Alessandra Bertasi Nascimento, professora adjunta
da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Ana Carolina Alves Tibúrcio, acadêmica do curso de
Licenciatura em História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Referências
bibliográficas
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm.
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BRASIL.
Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da
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NOVA ANDRADINA. Lei nº 1.675. Assegura Às Pessoas Com Transtorno Do Espectro Autista
(Tea) E A 1 (Um) Acompanhante O Direito À Meia-Entrada Em Eventos Culturais E
Esportivos Realizados No Município De Nova Andradina-Ms. 2022b.
Disponível em: http://cdnlegislacao.pmna.ms.gov.br//uploads/legislation_archive/file/5193/Lei_1675-2022-Transtorno_do_Espectro_Autista__TEA_.pdf. Acesso em: 17 jul. 2022.
Boa- noite, Ana e Alessandra! Parabéns pelo artigo de vocês! Como é desafiador falar de autismo. E aqui fico a me questionar...por um lado os pais de autistas têm se queixado que a escola nem sempre recebe o aluno para estar no meio dos demais. Ou não dá atenção. Por outro, que aparato temos de fato nas escolas para este acolhimento ser mais efetivo? Sinceramente dói meu coração não saber lidar sempre perante certas situações. Imagina um só docente de anos finais com 30 alunos em sala e um ou dois autistas, cada qual com seu grau...leve, severo...como dar conta? Grata pelo texto! Abraços!
ResponderExcluirOlá Ivanize, muito obrigada por sua pergunta! Assim como o tema central desta mesa está relacionado diretamente com as políticas educacionais, a escola também deve se apoiar nestas políticas, sejam elas relacionadas com a educação inclusiva ou propriamente com a causa da pessoa autista, que por sua vez, podem fornecer ajuda e assim, amparar no trabalho que deve ser realizado tanto dentro como fora de sala de aula. Considerando ser uma discussão de política pública educacional, para a escola as previsões de ações devem ser definidas no Projeto Político Pedagógico (PPP). Pensar e registrar como prever as adaptações curriculares de pequeno porte, a serem promovidas pelos/as professores/as tanto a nível coletivo das interações em sala de aula, quanto a nível individual no Plano de Ensino Individualizado (PEI). Tal plano exige a elaboração conjunta com equipe pedagógica, professores/as do/a aluno/a e instância superior a que a escola se vincula. O envolvimento dessa instância deve acontecer porque ela é responsável pelas adaptações curriculares de grande porte. Todavia, mesmo essas precisam estar projetadas no PPP da escola, pois estabelecem a política de relações entre profissionais de salas de recurso multifuncionais, técnicos da instância superior, etc. Um grande exemplo, é a oferta de um profissional especializado (professor de apoio) que acompanhe o aluno ao longo das suas aulas e cotidiano escolar. Este apoio é essencial para a aprendizagem e desenvolvimento do aluno autista, a fim de mediar as experiências escolares visando tornar real o que é potencial, obstaculizado pelas particularidades da expressão do espectro naquele/a aluno/a, tais como: dificuldades com metáforas, interpretação de texto, organização do raciocínio para elaboração de perguntas, enfrentamentos de situações de interação social. Um ponto fundamental que também deve ser ressaltado: a família nem sempre elaborou o luto pela perda do/a filho/a filha ideal e lidar com essa realidade é desafiador, porque ela nem sempre estará pronta para ajudar, como a escola talvez espere. Daí ser fundamental estabelecer políticas de formação de professores que podem ser pensadas com instituições de ensino superior presentes na localidade ou região. A escola não precisa ficar fechada em si mesma. A efetivação deste acolhimento vai depender, entre outros elementos, da abertura de comunicação e aceitação de que o processo não está pronto, está longe de ser perfeito apesar dos esforços postos em movimento e pode ser constantemente aperfeiçoado se a gestão escolar for mais democrática e participativa que gerencial e burocrática para a oferta de um ensino inclusivo e de qualidade. No que tange à escola, para atingir tais objetivos, é preciso verificar e tensionar instâncias superiores para a aquisição daquilo que a própria legislação oferece e garante, a partir do arcabouço legal e inclusivo garantido na letra da lei, mas que precisa ser movido para existir materialmente. Muitas vezes, instruir as famílias sobre tais direitos também é uma ação política. Esperamos ter auxiliado. Ana Carolina e Alessandra
ExcluirBom dia, primeiramente gostaria de saudar-lhes e parabenizar-lhes pelo belo trabalho aqui exposto. Tendo em vista as particularidades de cada pessoa com autismo, de que forma vocês acreditam que, enquanto professores, podemos trabalhar em prol de uma educação mais inclusiva no contexo atual das salas de aula brasileiras? Vocês acreditam que temos o suporte necessário para atender as necessidades de todos os estudantes? Por fim, permita-me mais um questionamento: quais livros sobre a temática vocês aconselhariam para a construção de um tcc dentro desse tema? É realmente algo que me interessa saber mais.
ResponderExcluirDesde já agradeço pelo tempo,
Emilly Layane de Sá Lima
Olá Emilly, muito obrigada por suas perguntas! Acreditamos que realmente ainda temos muitos desafios a serem enfrentados nas salas de aulas brasileiras para que possam atender as necessidades de todos os/as estudantes. Ainda mais porque quando falamos “TODOS” não nos referimos apenas aos/às alunos/as com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, o público-alvo da educação especial na perspectiva inclusiva. Também pensamos que as orientações mínimas provenientes das políticas educacionais podem nos dar os caminhos a serem trilhados. Não à toa temos no Plano Nacional de Educação a meta 4 e suas estratégias, desvelando também, entre os entes subnacionais, os diferentes desafios a serem enfrentados decorrentes de realidades distintas. Agora, em se tratando do chão da escola, apesar dos elementos desafiadores e realidades distintas, o primeiro passo é incluir de fato o aluno autista na realidade e cotidiano escolar, a partir da disponibilidade para conhecer este aluno, levantar suas potencialidades para além de compreender suas dificuldades de aprendizagem. Acreditamos que a resposta dada à Ivanize, acima, também possa auxiliar na reflexão proposta por você. Sabemos não existir orientações que caibam de modo generalizado e indistinto a todas as realidades escolares, contudo, por nossa experiência o trabalho conjunto auxiliará o/a docente a oportunizar a participação do/a aluno/a nas atividades, sejam elas em grupos ou individualmente. Cabe às instituições escolares a observação dos dispositivos que a própria legislação fornece, na tentativa de ofertar uma educação inclusiva e de qualidade para todos/as, atendendo as demandas e necessidades do processo de ensino e aprendizagem de cada estudante. Nesta ocasião, a legislação deve ser o suporte, pois quando se está amparado da legislação, torna-se mais fácil incluir formas de atendimento. No que se refere à sugestões de leitura, preferimos partir de uma criteriosa revisão de literatura em artigos científicos, tais como os que seguem. Vai depender muito do recorte a ser dado em sua pesquisa:
ExcluirGUEDES, Nelzira Prestes Da Silva; TADA, Iracema Neno Cecilio. "A Produção Científica Brasileira Sobre Autismo Na Psicologia E Na Educação." Psicologia: Teoria E Pesquisa 31.3 (2015): 303-09.
RODRIGUES, Isabel De Barros; ANGELUCCI, Carla Biancha. "Estado Da Arte Da Produção Sobre Escolarização De Crianças Diagnosticadas Com TEA." Psicologia Escolar E Educacional (Online) 22.3 (2018): 545-55.
O que desencadeia o Autismo?
ResponderExcluirOlá, Sandra Maria! Muito obrigada por sua pergunta! Até a atualidade, mesmo com muitos estudos relacionados com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), ainda não se conhece uma causa específica que de fato desencadeia o autismo. A maior concordância entre pesquisadores se volta para estudos que sugerem uma predisposição genética, como nos aponta Tismoo (2019) a partir de um estudo publicado pelo JAMA Psychiatry confirmando “[...] que 97% a 99% dos casos de autismo têm causa genética, sendo 81% hereditário. O trabalho científico, com 2 milhões de indivíduos, de cinco países diferentes, sugere ainda que de 18% a 20% dos casos tem causa genética somática (não hereditária). E o restante, aproximadamente de 1% a 3%, devem ter causas ambientais, pela exposição de agentes intrauterinos — como drogas, infecções, trauma durante a gestação.”. Esperamos ter auxiliado.
ExcluirTISMOO. Pesquisa confirma que autismo é quase totalmente genético: 81% é hereditário. 19 jul. 2019. https://tismoo.us/destaques/pesquisa-confirma-que-autismo-e-quase-totalmente-genetico-81-e-hereditario/
Percebi que foi feita uma excelente divulgação para população Nova Andradinense, a respeito do reconhecimento e dos direitos do altíssimo.
ResponderExcluirGostaria de saber hoje tem uma número, ou uma média de quantos altista vive em Nova Andradina?
Olá, Belmiro! Agradecemos a sua participação e pergunta. Um dos grandes problemas que enfrentamos no Brasil é com a ausência de pesquisas epidemiológicas para o transtorno do espectro autista (TEA). Por isso, a importante conquista da inclusão da seguinte pergunta no Censo do IBGE 2022: “Já foi diagnosticado(a) com autismo por algum profissional de saúde?”, tendo sim ou não como resposta. O resultado dessa pesquisa auxiliará grandemente na projeção e aprovação de políticas públicas em diferentes áreas para as pessoas autistas e familiares.
ExcluirDesse modo, os dados que mais se aproximam da resposta realizada por você são os provenientes do Censo Escolar da Educação Básica. Entretanto, essa fonte contempla apenas os/as alunos/as matriculados/as na educação básica, excluindo aqueles com idade inferior à educação infantil e superior ao ensino médio, não representando adequadamente o número de pessoas autistas em Nova Andradina/MS.
Para fins de exemplificação, conforme o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em Nova Andradina, no ano de 2018, o Censo Escolar contabilizou 48 alunos/as diagnosticados/as com transtorno do espectro autista e matriculados/as, sendo 28 em classes comuns e 20 em classes exclusivas; em 2019 aumentou um/a aluno/a, totalizando 29 alunos/as, dos/as quais 27 em classes comuns e 22 em classes exclusivas.
O restante da série ficou comprometida com a retirada dos arquivos contendo os microdados do Censo Escolar para os anos de 2020 e 2021 do site do INEP e a posterior liberação de dados com informações suprimidas. Sem considerar as justificativas das instâncias administrativas superiores para tal ação, esperamos ter contribuído com a resposta para a sua dúvida.
Apesar de ser garantido por lei as escolas públicas da educação estão preparadas para receber alunos com o espectro autista
ResponderExcluirOlá, Matheus, obrigada por sua pergunta. Poderíamos responder a sua pergunta pensando por dois aspectos: o da matrícula e o do trabalho pedagógico no processo de ensino e aprendizagem. No primeiro caso, sim, pois do ponto de vista burocrático, não há problemas maiores para a realização da matrícula, mesmo havendo relatos informais de pais que dizem ter escolas dispensando tal ação quando colocam uma série de obstáculos para o processo de ensino e aprendizagem. No segundo caso, algumas estão melhor organizadas para o acesso, acolhimento, permanência e sucesso de alunos/as com transtorno do espectro autista (TEA). Até onde tivemos oportunidade de experienciar realidades diversas, a diferença se faz na constituição e trabalho da equipe pedagógica e docente. Mesmo para essas, melhor organizadas e estruturadas, ainda há a necessidade de maior investimento em formação continuada, recursos tecnológicos e outros. Esperamos ter contribuído com a sua resposta.
ExcluirPercebi que foi feita uma excelente divulgação para população Nova Andradinense, a respeito do reconhecimento e dos direitos do Autismo.
ResponderExcluirGostaria de saber se hoje tem um número, ou uma média de quantos altista vivem em Nova Andradina?
Olá, Belmiro! Agradecemos a sua participação e pergunta. Um dos grandes problemas que enfrentamos no Brasil é com a ausência de pesquisas epidemiológicas para o transtorno do espectro autista (TEA). Por isso, a importante conquista da inclusão da seguinte pergunta no Censo do IBGE 2022: “Já foi diagnosticado(a) com autismo por algum profissional de saúde?”, tendo sim ou não como resposta. O resultado dessa pesquisa auxiliará grandemente na projeção e aprovação de políticas públicas em diferentes áreas para as pessoas autistas e familiares.
ExcluirDesse modo, os dados que mais se aproximam da resposta realizada por você são os provenientes do Censo Escolar da Educação Básica. Entretanto, essa fonte contempla apenas os/as alunos/as matriculados/as na educação básica, excluindo aqueles com idade inferior à educação infantil e superior ao ensino médio, não representando adequadamente o número de pessoas autistas em Nova Andradina/MS.
Para fins de exemplificação, conforme o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em Nova Andradina, no ano de 2018, o Censo Escolar contabilizou 48 alunos/as diagnosticados/as com transtorno do espectro autista e matriculados/as, sendo 28 em classes comuns e 20 em classes exclusivas; em 2019 aumentou um/a aluno/a, totalizando 29 alunos/as, dos/as quais 27 em classes comuns e 22 em classes exclusivas.
O restante da série ficou comprometida com a retirada dos arquivos contendo os microdados do Censo Escolar para os anos de 2020 e 2021 do site do INEP e a posterior liberação de dados com informações suprimidas. Sem considerar as justificativas das instâncias administrativas superiores para tal ação, esperamos ter contribuído com a resposta para a sua dúvida.
Boa noite. Gostaria de saber, como fica a questão de seletividade alimentar nas escolas?
ResponderExcluirOlá, Griciéli, obrigada por sua pergunta! Esse é um recorte de pesquisa que não abordamos. Entretanto, posso lhe dizer que, devido a realidade do espectro e seus diferentes níveis de comprometimento, vai variar muito a presença ou não de seletividade alimentar no/a estudante, inclusive em função dos apoios que recebe e/ou já recebeu e/ou não recebeu ao longo de seus anos. O fato de ter recebido intervenções de outros profissionais como psicólogos, fonoaudiólogos, Análise do Comportamento Aplicada e a terapia ocupacional com intervenção em integração sensorial, sem a intenção de esgotar os possíveis exemplos. Até onde já pudemos presenciar e ouvir de relato de familiares, mas não em âmbito de coleta de dados para pesquisa científica, alguns não comem na escola, outros levam lanche de casa, outros comem o lanche da escola e/ou alternam entre o lanche que gostam produzido pela escola e o que levam de casa. Sentimos muito não podermos contribuir mais com a resposta à sua dúvida.
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